Daniel Kondlatsch's shack

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Biografia de radioamador...

Meu nome é Daniel Kondlatsch, brasileiro, de nome tradicional e sobrenome incomum, bisneto de imigrantes alemães do final do século XIX, nascido em Rio Negro e residente em Mafra, município situado ao norte do estado de Santa Catarina bem na divisa com o Paraná, 90 km ao sul da capital paranaense Curitiba. Até 1917 Mafra era território do município paranaense de Rio Negro, que leva o nome do rio que abastece a região, somente após a Guerra do Contestado quando houve uma nova demarcação de territórios que o rio Negro passou a ser a divisa, então na margem esquerda do rio, agora pertencente a Santa Catarina, Mafra foi instalada, o nome do município é homenagem ao jurista catarinense Conselheiro Mafra, que defendeu Santa Catarina contra o Paraná no referido conflito.

Desde moleque eu sempre tive muito interesse em equipamentos eletrônicos, transmissores, máquinas, motores e tudo mais que envolva mecânica, gaste gasolina ou consuma energia elétrica, quando no início dos anos 90, no auge dos meus 12 anos de idade, a essa altura já um experiente "desmontador de coisas", sempre tive o objetivo de entender e compreender o funcionamento daquilo tudo que eu desmontava, lembro que via nas páginas dos meus gibis do Tio Patinhas as propagandas dos cursos por correspondência do Instituto Universal Brasileiro. Até que certo dia resolvi enviar um recorte daqueles e iniciar o curso de Eletrônica Básica, Radiotécnico, Áudio e Televisão, lembro que rapidamente "devorei' o material recebido, que em sua versão mais completa também incluia todos os componentes para montar um receptor AM, com isso concluia o curso, foi ele que abriu as portas desse universo para mim.

Muitos fundamentos que aprendi são dessa época, que foi quando descobri o que eram os transistores, resistores, capacitores, etc e conheci como eram executados muitos processos, acabei descobrindo que tinha o dom de executar soldas perfeitas ao manusear placas de circuitos e isso no futuro me rendeu alguma vantagem ao iniciar no mercado. Quase ao mesmo tempo, meu pai trouxe pra casa um aparato que no início eu imaginei ser um rádio automotivo, (e pensando bem eu não estava de todo errado), sei que como um bom ‘fuçador’ facilmente me enturmei com aquilo tudo, instalei a base e naturalmente assumi o controle da estação. Ali então eu comecei a operar na faixa do cidadão (como a maioria dos companheiros de rádio) usando o indicativo que meu pai havia registrado no Dentel, o PX5B6051, naquele tempo sem internet as pessoas não tinham as facilidades que temos hoje e a consulta ao dono do indicativo era algo praticamente impossível, fazendo com que eu usasse ele por quase 10 anos.

O equipamento citado tratava-se de um CCE 40 canais AM que era ligado a uma plano terra fixada num poste de madeira nos fundos de casa, esse rádio por muito tempo foi meu professor e companheiro, além dos ilustres desconhecidos que tiveram muita calma e paciência para me ensinar, aprendi muito com muita gente e sou muito grato a isso. Esse rádio me trouxe muitas alegrias e com ele também fiz muitos amigos, alguns dos quais ainda mantenho contato, lembro que aquilo tudo dava interferência até no telefone da vizinhança, ver TV na redondeza era uma tarefa complicada, não tinha um vizinho que não me escutasse nos mais variados dispositivos, naquele tempo blindagem contra RF era algo incomum.

Mais tarde montei uma estação na picape, ali tive um SuperStar JA ‘cara preta’ que tinha mais funções do que eu naquele instante conseguia compreender, ligado a ele tinha uma ‘botina’ de 500W e uma ‘maria-mole’ que me proporcionavam contatos simplesmente impossíveis, lembro que o primeiro DX que eu fiz foi em AM foi com um cidadão de Cacoal – RO, indo na contra-mão do SSB que eu estava aprendendo usar, FM então nem pensar, “esse negócio chia muito” eu dizia… Quando mudei-me para Jaraguá do Sul – SC em 1998 para cursar Engenharia Mecânica lembro que me apelidaram de ‘pescador’ em alusão a antena que carregava na Chevrolet C-10 que ainda tenho, também trouxe para o radioamadorismo alguns colegas de classe que se interessavam ao me ver operando a estação.

Acabei me afastando do rádio no início dos anos 2000 quando o trabalho tomou conta do meu tempo, somou também uma ocorrência negativa que foi quando furtaram todo o equipamento de rádio da picape em 2002, depois disso nunca mais comprei nada, pois o dinheiro sempre foi curto e o tempo escasso, mas, ainda assim, ficava namorando os lançamentos nos catálogos gringos que via na internet e imaginava se algum dia iria possuir algum daqueles rádios ou então teria a oportunidade de continuar o que havia começado quando moleque.

Desde então muito tempo se passou e muita coisa aconteceu, quando lamentavelmente em novembro de 2016 minha esposa e eu sofremos um acidente automobilístico onde ambos fraturamos a coluna e em decorrência da lesão medular ficamos com uma série de problemas neurológicos, entre eles os piores são a neuropatia (dor persistente) e a incapacidade do corpo regular a temperatura corretamente, eu além disso ainda fiquei paraplégico, assim atualmente passamos praticamente o dia todo deitados na cama pois tornou-se impossível executar alguma atividade laboral adequadamente, então para ocupar melhor a cabeça e o tempo que agora tenho de sobra resolvi operar no rádio novamente.

Então depois de um tempo economizando algum dinheiro eu consegui comprar um HT, sonho de consumo que eu vinha namorando desde o lançamento, um Yaesu VX-8DR que por um bom tempo foi o meu único rádio, comprei todos os acessórios dele e usei até gastar o teclado(!), foi com ele que eu tive o primeiro contato com algum modo digital ao me interessar em saber do que se tratava o APRS, uma das principais funções do HT que mais tarde eu dominei. Só que como eu ainda não tinha feito o COER eu operava de forma ilegal, então para solucionar isso marquei prova na Anatel em Curitiba e em meados de 2019 me submeti ao exame para classe C, logo em seguida registrei a minha primeira estação sob o indicativo PU5KOD, KO de KOndlatsch e D de Daniel, escolhido justamente por ser fácil de declinar durante os QSO’s, Papa Uniform cinco Kilo Oscar Delta.

No final de 2019 comprei um Yaesu FT-3DR e com ele tive o primeiro contato com um rádio digital, coisa que até então eu não sabia como funcionava, isso me gerou outro problema pois eu tinha o rádio digital mas não tinha um interlocutor pra usar ele, foi quando no início de 2020 em um vídeo aleatório no YouTube eu vi um colega usando uma caixinha preta que ele chamava de JumboSpot e usava o rádio com aquilo, muito do que ele dizia na época não fazia muito sentido, mas como eu já estava trabalhando com importações eu resolvi comprar um pra ver como era. Lembro que o objetivo era poder usar o rádio no modo digital que ele operava, só isso…

Quando chegou o JumboSpot eu lembro que levei algum tempo para configurar, me ajudou muito ter trabalhado alguns anos como Analista de Sistemas, pois naturalmente me adaptei e rapidamente comprendi como tudo funciona, logo consegui fazer o meu primeiro contato no YSF em C4FM, em pouco tempo eu já estava fazendo amigos nos modos digitais. Uma das coisas que eu gostei muito foi que com o hotspot operando em YSF através de cross-mode é possível operar em outras modalidades, não ficando limitado somente a tecnologia em que o rádio opera. Então conversando com diversas pessoas eu fui aprendendo cada dia um pouco mais sobre os detalhes desse universo que até então para mim era desconhecido.

Nessa trajetória eu acumulei muito conhecimento, me especializei em alguns segmentos e hoje mantenho pelo menos 6 instâncias de sistemas de Digital Voice permanentemente ativas, dentre elas a que tem maior relevância é o YSF 77777 BR-Brazil, que sem pretensão alguma coloquei no ar em outubro de 2020, na ocasião foi o quinto refletor YSF brasileiro a ser registrado. O objetivo inicial era basicamente fazer experiências e ser um ponto de encontro sem toda aquela formalidade que é comum de se ver por aí, talvez por isso rapidamente reuniu adeptos e cada vez mais ficou conhecido, logo tornou-se uma das referências da modalidade no país e atualmente é o refletor YSF mais movimentado do Brasil, com uma média semanal de mais de 2.500 câmbios. Para quem tiver interesse e quiser acompanhar o movimento dele é só acessar seu dashboard através do site dvbr.net, lá pode-se verificar diversas informações, entre elas quem está falando no momento, quais são as conexões ativas além do histórico dos QSO’s dos últimos 7 dias, e agora uma novidade, também é possível acessar os áudios dos últimos câmbios feitos no refletor, resultado de uma parceria com o site hamradio.solutions.

Também tenho apostado na nova modalidade ainda pouco conhecida chamada M17, que atualmente é a única totalmente Open Source de rádio digital desenvolvido por radioamadores. Então hoje mantenho ativos os dois únicos refletores brasileiros da modalidade que são o M17-BRA e o M17-724, como o modo ainda é novo não existem aparelhos que utilizam a tecnologia, então a única forma de usá-lo é via aplicativo, destacando-se o DroidStar, aplicativo que também tenho incentivado o uso como forma de experiência. O M17 é um sistema de Digital Voice muitíssimo parecido com o C4FM da Yaesu, mas o detalhe de ser Open Source faz toda a diferença, ou seja, é um sistema de código aberto onde qualquer um que deseje pode colaborar com o projeto, bem como não existe necessidade de pagamento de taxas ou royalties para sua utilização pelos fabricantes de aparelhos assim como existe hoje no D-Star que é proprietário da Icom/Kenwood, DMR da Motorola e C4FM/Fusion da Yaesu, isso é bom porque incentiva os fabricantes a adotarem o modo e barateia o produto final.

Mais recentemente também coloquei no ar a sala Brazil / dvAMERICA (82758) no Wires-X da Yaesu, modalidade que é reconhecida por contar com uma excelente qualidade de áudio, de simples operação ele fornece recursos adicionais tais como envio e recebimento de mensagens de áudio, texto e imagens que o YSF ainda não suporta. E para melhorar a utilização da sala eu fiz um link entre ela e a sala de mesmo nome e ID no YSF, tornando possível que os usuários do Wires-X conversem com usuários do YSF, o que é impossível através de outras formas.

Seguindo a linha dos modos digitais, como era de se esperar, também mantenho aqui um iGate/Digipeater APRS, rodando o reconhecidamente potente e estável Direwolf v1.7b instalado em um Raspberry Pi 02W e usando um confiável Yaesu FT-2980R ligado a uma antena plano terra de 3x5/8, tudo isso instalado em posição geográfica privilegiada, num dos pontos mais altos da região sendo possível oferecer cobertura bem expressiva, pois em um raio de aproximadamente 100km não existem estações dessa natureza.

Outra modalidade que conheci durante algumas pesquisas na internet e encontra-se ainda bem ativa foi o Free Radio Network, ou simplesmente FRN, trata-se de um sistema que foi muito utilizado no final dos anos 90 e que atualmente anda um pouco esquecido por aqui, criado na Europa quando a internet começou a ter uma velocidade que a tornasse realmente útil, e utilizando os recursos do recém-inventado VoIP, era usada basicamente para interligar os repetidores analógicos existentes por lá. Dessa modalidade surgiram aplicações atuais como por exemplo Echolink, Zello, Peanut e diversos outros que de alguma forma tiveram inspiração no FRN. Para resgatar um pouco disso eu resolvi ativar o único servidor FRN das Américas, juro que fiquei muito surpreso ao constatar que a qualidade de voz é a que melhor corresponde ao áudio original dentre os outros modos de DV que eu operei até hoje, é realmente surpreendente!

Também estou viabilizando a primeira repetidora digital aqui na região, que até então só possuí cobertura de um único repetidor analógico, o projeto encontra-se atualmente em estágio avançado, em fase inicial de montagem dos equipamentos e aquisição de alguns agregados envolvidos na empreitada, a repetidora funcionará em UHF no modo YSF em C4FM, existe ainda a possibilidade da estação ser híbrida com a habilitação adicional do DMR, mas isso é apenas uma suposição, até tudo finalizar tem muita coisa pra acontecer. A estação vai operar com dois transmissores Motorola PRO-5100 de 40W de potência que são reconhecidos por sua confiança e robustez, além disso toda a infra-estrutura é de primeira linha, desde a fonte até a antena, tudo para ter o máximo de disponibilidade da estação.

E para finalizar recentemente estou investindo na instalação de uma estação HF, pois no início de 2021 apareceu a oportunidade de adquirir um Yaesu FT-857D novo, rádio excelente que continua sendo referência, até então eu não tinha intenção de operar em HF pois sei que para ter uma estação de boa qualidade o investimento a ser feito é grande, geralmente o dobro que foi investido no rádio, que é só o começo da estação, mas como o preço dele estava pornográfico acabei comprando. Ele ficou na caixa guardado quase o ano todo, só implantei a estação no final de 2021 quando eu consegui negociar uma antena de qualidade, uma Yaesu ATAS-120A que opera entre as faixas de 40m a 70cm e traz resultados inacreditáveis, é realmente incrível o que ela proporciona. Então enquanto eu desenho um projeto onde eu consiga extrair o máximo dos recursos que meu rádio oferece, temporariamente eu estou operando mais frequentemente no FT8 cuja modalidade tem trazido muitos aprendizados, mas também tenho testando tudo outros modos interessantes, já experimentei alguma coisa de JS8Call, FreeDV, ROSS, entre outros, e juro que fiquei surpreso ao ver o alcance que uma estação montada mesmo sem grandes recursos consegue ter nessas modalidades, é possível alcançar praticamente o mundo todo com relativa facilidade, é realmente impressionante.

Sobre os meus equipamentos, agora vem a hora da autopromoção, até mesmo porque eu ainda não conheci nenhum radioamador que não goste de falar dos seus equipamentos! Como pode-se observar sou fã incondicional da japonesa Yaesu e da modalidade C4FM, sempre admirei seus equipamentos e por consequência acabei optando pela marca na hora de adquirir minhas unidades, sendo assim atualmente mantenho os seguintes transceptores:

HT Yaesu VX-8DR + Bluetooth unit BU-2;
HT Yaesu VX-8GR (x2);
HT Yaesu FT-3DR;
HT Yaesu FT-4XR;
HT Yaesu FT-1DR (x2);
VHF Yaesu FT-2980R (iGate/Digipeater APRS);
HF Yaesu FT-857D + Remote Control Yaesu MH-59A8J;
Dual Band Yaesu FTM-100DR + FVS-2 + BU-2;
UHF Motorola PRO-5100 (x2, Repetidora C4FM).

Tenho muito orgulho de ter conquistado todo esse patrimônio assim tão rápido, isso lembrando que os rádios são somente uma parte pois os acessórios que compõe a estação acabam valendo tanto quanto, mas foi com muito esforço e perseverança que consegui tudo que tenho.

Então é isso, essa é a minha trajetória como radioamador, desde o início estou aprendendo e cada vez mais compreendo como funciona esse universo, e se tem uma coisa que tem me dado muita satisfação é poder compartilhar todo esse conhecimento, pois informação que não é compartilhada não serve pra nada, então tenho me esmerado em fazer minha parte ajudando todos da melhor forma. Creio que afinal seja esse o real fundamento do hobby, experimentação, aprendizado e compartilhamento, basicamente isso.

Nos encontramos pelas faixas! (ou não...)